O jornal de hoje parece ser o mesmo de ontem, que se parece o mesmo de antes de ontem. Certamente, o de amanhã também será similar ao de hoje: mais um indivíduo recebeu tantos milhões de reais, de acordo com o doleiro Alberto Youssef; mais um partido foi beneficiado pela obra X entre os anos tal e tal, segundo denúncias; mais uma empresa é suspeita de favorecer Fulano e Ciclano (e a si mesma); aprovado o auxílio-moradia para congressistas no Brasil.
A crise no Brasil, antes de política ou econômica, é ética – como sói acontecer com grande parte dos outros países de grande potencial que, não obstante, desvalorizam a educação. Esta é a base do conhecimento e, consequentemente, do progresso de uma sociedade.
Sócrates, considerado o pai da ética, disse que uma vida sem reflexão não merece ser vivida. E, segundo ele, o primeiro questionamento que deve ser feito é: “O que é o homem?” Sua resposta é: “Sua alma”, que significa sua razão. E razão denota sabedoria. Assim, sempre se deve buscar a virtude da alma, isto é, o conhecimento. Isso tornará a pessoa ética e educada. Inclusive, Platão, discípulo de Sócrates, dizia que a educação mostraria a cada cidadão sua função na pólis e, assim, esta seria mais justa e pacífica.
Na mesma seara, Aristóteles afirma que a verdade é encontrada com a busca do ser enquanto ser. E, dentro da teoria aristotélica do ser, a substância possui a essência e o acidente. A primeira característica é fundamental para o ente ser o que é, enquanto a segunda, por óbvio, é inessencial. Dessa forma, assim como o motor de um carro é essencial e o ar condicionado, não, há uma parte que fundamenta o ser humano e outra, não. Logicamente, deve-se buscar o principal.
Ora, associando Sócrates, Platão e Aristóteles à crise ética no Brasil, nota-se claramente que o problema é educacional. Se a preocupação se voltar à essência do homem, que é sua alma, a virtude (ética/educação) será mais facilmente alcançada, o que resultará na realização do ser (tanto no plano individual como na coletividade/sociedade).
A grande dificuldade é que “o essencial é invisível aos olhos”. Portanto, é mais fácil valorizar os “acidentes” do que a “essência”, ou melhor, o “ter” antes do “ser”. De que vale ser alguém que não tem? Povo educado e honesto não tem conta nas Ilhas Cayman. Professor não tem auxílio-moradia e nem possibilidades de fazer com que sua empresa (que empresa?) favoreça alguém. O “ser” não “tem” do bom e do melhor. Porque ano passado, sempre tinha de se exigir o melhor: friboi. Hoje “melhorou”. Não precisa ser Friboi, basta estar na moda. A mulherada gosta. E o Brasil aprova.
Vamos (re)ler nossa (in)essência no novo jornal que compramos. É o que temos. É o que somos.
Mais uma ótima reflexão, Lucas!
Achei interessante também o fato de você ter inserido (e eu ter reconhecido) um dos hits do momento para concluir o texto, rs
🙂 Obrigado, Lari!
Muito bom o texto. Leva-nos a concluir que a questão da ética no Brasil é patética.
Sem dúvida. É careta ser…
Caro Lucas,
Certa feita, ocasião que sediava o solitária posição na PUC, quando eu não autorizava a utilização de equipamentos cibernéticos (acessíveis da rede mundial) durante minhas aulas pelos alunos, fui vencido pelo regulamento que me vi obrigado a cumprir, ao mesmo tempo que assistia, também, a queda vertiginosa da qualidade dos discentes, materializada no vexame nacional dos resultados dos exames da OAB. Não exitei e assim sintetizei o fato: perdi(do) para o mundo?
Ouvi, também , em minha casa, de um cliente nosso (que hoje é cuidado pela Dra. Vivian) que a alma é o conjunto das relações humanas que se estabelecem em uma vida (Samuel Sanches), com o que passei a refletir sobre a alma no seu mistério humanizante…
Parabéns pelo texto!
Um abraço,
Chimicatti
Doutor Hebert,
Ótimo exemplo, infelizmente real e não ficticio. Essa é nossa realidade: cada vez mais materialista e corpórea e cada vez menos preocupada com os valores da alma. Consequentemente, a humanização míngua aos poucos…
Agradeço pela leitura e, ainda mais, pelo comentário.
Abs,
L.